Creep, Relato sobre não Pertencer.

Ainda não me acostumei com isso de não pertencer. Não me encaixar em lugar algum, sentindo-se sempre como a peça que sobra do quebra-cabeça, isso não me deixa dormir em algumas noites. Já estou tão cansada, tão desacostumada com essa constância de ida e volta da vida, desacreditando de tudo e cuspindo blasfêmias. Essa não sou eu.

As lágrimas que derrubei não foram suficientes. Molharam o chão que piso, mas não fizeram com que ele se tornasse MEU chão. Meus pensamentos, ziguezagueando pelos labirintos de minha mente, não conseguiram ainda achar uma saída para tudo isto. Minhas mãos, sem calos, sem marcas, sem dor aparente, não conseguiram abrir a porta. Meus olhos confusos e embaçados não conseguiram achar a porta. Meus pés e pernas gelatinosos não conseguiram me arrastar até a porta.

Cortada e dilacerada, surda, tapando os ouvidos para não ouvir o mundo, sigo desesperadamente a procura da saída que sei que não existe. Não existe porque nunca irei pertencer a lugar algum. Nunca farei parte de nada grande e bonito. Tenho um formato diferente, não me encaixo no restante do cenário. Sei e entendo isso. Até gosto, mas não aceito, e é justamente o que procuro. Não por aceitação – pois isto é inútil, mas pela saída que me leve ao convívio perfeito comigo mesma. 

Por: Laila Silva